sábado, 16 de julho de 2011

O Louco e a Festa


Era uma vez, um homem que morava no fim da rua. Ali ele tinha a sua casa, rua inteira, a sua cama na calçada, a sua TV passando a todo o momento pela sua frente, carro, carroças, pessoas, animais, água, vento. Ali ele era solitário, a não ser pelo álcool que sempre o acompanhava. O seu trabalho era digno, ele limpava a rua e os lixos orgânicos de todas as casas do número 26 até o 466. Sempre estava vigilante olhando para o céu, embriagado, tonto, sem saber quem era.
Quando ele olhava para o céu e sentia o seu próprio cheiro ele se lembrava da única coisa que ainda lhe trazia esperança: o seu grande amor... esta lembrança era o que o mantinha vivo naquela rua.
Nesta rua havia uma casa de festas, quase todos os fins de semana havia festas de casamento ali. Ele esperava chegar o fim da festa onde todos já estavam embriagados, quando os seguranças estão mais relapsos, ele colocava o terno que tinha e entrava, ele sorria, com aquelas luzes e flores, com aquelas pessoas dançando, comia os restos das mesas e a cerveja dos copos, pegava as flores com as mãos e amassava. E ele sorria, sorria e sorria, comia bolo, doces, dançava no meio das pessoas, os seguranças já nem falavam mais nada pois já o conheciam, ele ficava imaginando se seu amor estivesse ali, ele não moraria na rua, ele não dormiria na calçada e nem beberia resto de cerveja. Talvez, ele tomaria champanhe na taça com os braços entrelaçados. Talvez ele distribuísse o bolo e pegasse sua noiva no colo. Ele poderia também dançar com ela no seu colo, e girar com ela. E ele olhava pra cima para as luzes e sua cabeça girava com a embriaguez e com sua imaginação. E antes da festa terminar ele voltava pra sua casa, tirava o seu terno, deitava na sua cama, olhava para o seu teto que era o seu céu nem sempre estrelado e dormia. Sonhava sempre com essas festas, sonhava com sua festa. E assim ele vivia. Certo dia quando ele acordou não sentiu forças para levantar, nem para olhar os números das casas. Outro dia ele não via mais as nuvens nem as pessoas. E assim os dias foram passando, a semana inteira, ele não conseguia mais pensar na sua esperança e na sexta feira ele não teve forças pra ir até a festa... nem ao menos de ir até lá ver se ainda havia festas. Agora lhe parecia que há muito tempo não havia festas, e então ele fechou os olhos e morreu, fraco, bêbado e sem esperanças. E não houve festa, nem lágrimas por ele. Porém a casa continuou com seus casamentos e suas noivas no colo e suas taças de champagne. E suas flores... 

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